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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

O burguês

23/7/2023 - São Roque - SP

    A ideia do burguês está diretamente relacionada com todas as nuances desta figura e posição social. Sendo a classe que mais ascendeu em poder político após a revolução francesa, consolidou seu estilo de vida e sua forma política nas sociedades. A maneira que o burguês viveu desde o surgimento da classe, na Idade Média, tornou-se a forma com que as sociedades passaram a se organizar a partir de 1789, com a radical mudança política surgida. Derrubando o modo de vida aristocrático, baseado em nobreza de nascimento, privilégios inatos e na economia mercantil, a forma de vida e política burguesa se consolida como a principal, a que comandará e moldará sociedades.

     Nesta nova forma política e social, que irá se construindo ao longo do século XIX, a figura do burguês vai sendo trabalhada, percebida e vai inspirando tanto a literatura quanto análises políticas e sociais em cima dela. Junto com esta análise desta figura, está à percepção das grandes misérias presentes nas sociedades burguesas, posteriormente chamadas de capitalistas, que irão ser vistas como um problema e contradição destas mesmas sociedades. Por ser o modo burguês, se verá também diversas questões relacionadas com a classe, com o modo de vida. Embora, por suas desigualdades, fosse visto como um problema estrutural, sua solução sendo uma nova mudança social, que tivesse impactos e reformulasse a sociedade da mesma maneira que a Revolução Francesa tinha feito. Porém, desta vez, que ocorresse para tornar uma sociedade baseada na força política trabalhista, que fosse organizada a partir da produção de produtos feita pela pessoa e apropriada diretamente pela pessoa.  

    Nisto, se começa a serem vistas as contradições burguesas, também começam a ver os burgueses e suas ações. Se uma grande parte de fato era apenas ganância e exploração, sem grandes considerações pelos problemas sociais, surge também a figura do bom burguês. A qual teria uma visão e preocupação com tais questões. E que agiria de sua forma e de suas maneiras para resolver.

   Literariamente, dois personagens são marcantes neste sentido: Madeleine, de Os Miseráveis e Ebenezer Scrooge, de O Conto de Natal. O primeiro é basicamente Jean Valjean que, após ser solto da prisão e sentir uma grande mudança interna devido à bondade de um bispo, torna-se um industrial em uma cidade francesa sendo alguém que movimenta e melhora a cidade em diversos aspectos. Era uma figura boa, que ajudava e dava melhores condições lá, muito por ser uma boa pessoa. Até ser descoberto que ele, na verdade, era Jean Valjean e volta a ser perseguido. Já Scrooge tem um arco de transformação. No qual começa como uma figura gananciosa e, graças aos espíritos dos natais, torna-se uma nova pessoa, sendo também, a partir daí, bom e atento e prestador de ajudas. São figuras clássicas da literatura, que mostram a figura do bom burguês.

     Se estes mostram toda esta cultura em torno, todas estas ideias em pauta podem também ser observadas na realidade. Um exemplo marcante é Friedrich Engels, industrial alemão que foi o principal parceiro de escrita de Marx. Junto com a escrita dos textos que formaram o marxismo e uma série de ações sociais feitas, ele também foi um importante industrial de sua época, que fez este jogo entre as vidas. Mais do que outro, ele percebeu e viveu as contradições sociais do seu tempo, vivendo os dois lados e sentindo suas características fortemente. Foi um burguês que nos permite ainda ver as contradições sociais existentes e a profundidade das mesmas. Um burguês interessante, que permite ver o sistema em suas formas e contradições.

 
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