COLUNISTAS

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Grito de Dolores

9/9/2023 - São Roque - SP

       Certamente um evento que demonstra uma relação entre política e religião, não de maneira direta e teocrática, mas que une estes dois aspectos sociais é o Grito de Dolores. Por ser o grito de Independência do México, que se tornou o símbolo deste mesmo processo, carrega em si um forte componente político, mas também de organização e de um sentimento religioso. Que está posto na própria maneira, na ideia levada pelo grito. Por ele em si e pela Virgem de Guadalupe.

     O Grito sendo dado pelo Padre Miguel Hidalgo, pai da Independência mexicana, foi feito na cidade de Dolores, atual Dolores Hidalgo, como tal declaração, como algo que buscava maior poder e emancipação política para o México. No contexto de Independência dos países da América. Porém, neste caso, mais do que em outros, há uma religiosidade embutida, visível especialmente na questão de uma base e força espiritual. Sendo a Virgem de Guadalupe uma figura conhecida e cultuada pelos mexicanos desde o período colonial, carrega consigo muito da identidade mexicana, daquilo a ela associado. Hidalgo, como reitor do colégio de San Nicolas e pároco da Igreja de Dolores possuía forte conhecimento sobre isto, sobre esta relação. A força da Virgem carregava consigo uma identidade, uma ligação.

       Junto a isto, em si, o Grito de Dolores carregava um tom e mensagem muito poderosa, falada em sua composição: Viva a Independência, viva a América, viva a Virgem de Guadalupe, morte ao mau governo. São em si frases simples, mas com ideias que possuem ampla amplitude social e de alcance. Porque carregam a noção tanto de Independência e de local, a América. Além do ponto da Virgem em si, que seria esta mãe, figura capaz de manter e proteger o México e posteriormente todo o continente, pois é a padroeira da América. Finalmente a morte ao mau governo carrega um conceito abstrato, mas que respalda na realidade. Pois os maus governos podem vir de diversas formas e contextos, mas sempre se manifestam concretamente. Tudo isto carrega em si uma disposição espiritual e uma proximidade. Tal disposição confere ao Grito de Dolores e a Miguel Hidalgo uma permanência e uma força política ainda marcada em inspiração.