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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

A ditadura militar brasileira

17/9/2023 - São Roque - SP

       O momento mais autoritário e fechado da história recente do Brasil, pelo menos desde a Proclamação da República, foi à ditadura militar, instaurada entre 1964 e 1985. Dentro de todo o processo da política brasileira, ali foi articulado e emendado as piores características e formas do Brasil, de seu estado e configurações. Derrubou-se toda sua estrutura política, mecanismos e dispositivos que faziam política até então, para ser instaurada uma ditadura comandada por militares, obedecendo a preceitos militares, com todo o sistema de mando e hierarquização. Além do que, o sistema militar existe sempre a partir do fator guerra, se organizando sempre como se estivesse em uma. O, que durante a ditadura, fez o estado brasileiro tomar postura como de quem está em guerra. No caso, seria uma guerra interna contra os comunistas.

     Pela maneira como aconteceu, dada a maneira em que foi feita, tratou-se, antes de tudo, de uma anomia social. Isto se caracteriza quando um estado ou uma sociedade saem de seu rumo normal, aquele para o qual estão desenhados e como se caracterizam. No caso do estado brasileiro, república desde 1889, foi desenhada para a ideia básica da república, com a ideia de eleição para os principais cargos, dando assim certo poder para a população. E, apesar de vários problemas, estava tendo certa repercussão deste modelo, até ser rompido pela ditadura militar. Ali os partidos são dissolvidos, eleições suprimidas e começou a haver perseguições. Neste ponto, se rompeu o pacto social estabelecido, pondo outro regime no lugar. Por isso anomia. É o rompimento da ideia de um estado, perdendo aquilo que se tinha. Quando acontece, isso recai sobre a população inteira, que sente radicalmente as mudanças e perdas do ocorrido.   

    Dentro de um contexto histórico, o golpe ocorreu de maneira a suprimir programas e mudanças sociais que estavam sendo implantadas no país. A qual irritou duas frentes que tinham bastante poder no Brasil: os Estados Unidos, com sua paranóia anticomunista, e a elite brasileira, que via com maus olhos a melhora e a justiça social ocorrendo no país, devido a certa perda de posições. João Goulart tinha como principal meta de governo as reformas de base, que modernizariam e melhorariam muito o estado brasileiro. Entre suas metas havia o plano de reforma agrária, reforma urbana, expansão de acesso ao crédito, aumento do poder de voto para mais partes da população, aumentar a valorização do magistério e ensino público e, finalmente, promover reforma fiscal, aumentando o poder de arrecadação do governo.

      Tais medidas guardavam um aumento de poder e força para o país, as quais teriam aumentado muito a qualidade de vida e a situação do país, que se fortaleceria muito. Porém, foi mal visto pela elite, que via perda do poder e aumento do espaço dos pobres no Brasil. Avessa a toda melhoria social, com estas não foi diferente. Somado a esta guerra interna, tinha-se também o fator Estados Unidos, que estava em sua paranóia anticomunista mais forte, principalmente após o sucesso da revolução cubana, que tirara a influência política que este tinha na ilha, desde a guerra hispano americana. Então, qualquer movimentação faria com que este mobilizasse suas forças para destruir governos de esquerda ou progressista. No Brasil, não foi diferente. E fez-se o golpe, em primeiro de abril de 1964.

      A partir dali, até 1985, teve-se essa anomia social, a qual deteriorou e degenerou o estado brasileiro. Ficou-se a mercê de uma política e de um poder criado e desenhado pelos EUA, com uma doutrina militar fortemente determinada por este. Nisto, se instalou o sistema de caça aos comunistas no Brasil, o que pode ser classificado basicamente como um macarthismo com tortura. Além de perseguir e fechar pessoas simpáticas ao socialismo e comunismo, privando-as de seus espaços, também se emburreceu o saber político, fazendo com que se tivesse muita desinformação e falta de conhecimento sobre política, deixando a população alheia ao que estava acontecendo e o que poderia ser feito. Além de torturar e perseguir os que sabiam e lutavam contra a anomia, que afundava o país ainda mais em suas desigualdades e problemas.  Foram 21 anos em que o Brasil se encontrou em depressão, ficando distante do que é e de suas melhorias sociais.          

     Com a redemocratização, os sentimentos e pensamentos políticos que deram o golpe ficaram por muito tempo arrefecido, mas não mortos. Ficou estes bastante difusos, dando espaço a outros pensamentos e também mais abertura para questões sociais, que permitiram a eleição de Lula e Dilma. Porém, ainda havia caldo e força para revivê-los. E foram, a partir de 2014, que resultou na queda de Dilma em seu segundo mandato. Se levantou novamente a paranóia anticomunista, se reforçou sentimentos políticos ruins, além de também criar um saudosismo à ditadura, encarnada no ex presidente Jair Bolsonaro, que foi como que a síntese deste processo.

  Houve todo este processo de se aumentar uma força contra políticas sociais e também se criar um sentimento social conservador, levantando aspectos racistas, homofóbicos e xenofóbicos. Assim, se fundiram estas duas antipatias, em um conservadorismo que gerou o bolsonarismo. Com a relativização e comemorações da ditadura que teve nos últimos anos, e agora que o golpe completa 59 anos, manter-se viva esta consciência e saberes contra tal regime. Com o bolsonarismo se dissolvendo em outros aspectos, isso parece ficar mais fraco, mas ainda muito vivo. Saber manter o estado sem se degenerar novamente é um aspecto fundamental para se implantar medidas sociais.     

 
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