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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Sobre a Palestina

8/10/2023 - São Roque - SP

    Como uma região epicentro de três religiões, a Palestina está fadada a tensão e aos conflitos. Não apenas por si mesma, mas também pelo significado que traz a estas mesmas religiões e suas variações mundo afora. Cristianismo, judaísmo e islamismo sendo hoje as três mais influentes há já longo tempo, enquanto existirem ou coexistirem, a terra palestina será local de tensão. Pois carregam consigo toda uma complexa ligação com o mundo e com as coisas a sua volta que criam espaços, cosmologias e totalidades diferentes. As quais carregam consigo, de forma muito complexa e entrelaçada, toda uma série de coisas presentes no mundo hoje. Que, quando entram em confronto, colocam em embate todos estes aspectos. Que constituem suas religiões e diversas de suas ramificações.

    Com a conquista romana e a expulsão dos judeus, a região ganhou mais fortemente o nome de Palestina, em oposição ao suposto reino hebreu de Israel, cuja existência era no mínimo fragmentado, muito embora fosse um local hebraico. Embora os relatos e documentos sobre este reino sejam mais bíblicos do que outra coisa, havia o povo hebreu. Desde este período, entretanto, a região palestina passou a ser majoritariamente habitada por outros povos, especialmente os otomanos posteriormente, que eram islâmicos. Durante todo este período a tripla sacralidade do local foi mantida, sendo por isso ainda bastante tensa e conflituosa, principalmente devido a Jerusalém, local fortemente sagrado aos três. Na era Otomana, as tensões eram, sobretudo, entre cristãos e muçulmanos, os judeus tendo menor participação, quase nula.   

     A partir de 1948, com a fundação do atual estado de Israel, criado dentro da ideologia sionista, novas tensões se desenharam na região, tendo novos contornos. Como um projeto que defendia um país judaico, o sionismo, fundado no final do século XIX, ganhou bastante força após a barbárie e infâmia do Holocausto. Se não era fundamentalista no sentido de forçar os habitantes de tal país seguirem a religião judaica, possui dentro de si um elemento de firmar um país judaico, de este ser a forma oficial do país, estar junto deste.  

   Concentrados entre o sionismo e as diversas correntes políticas árabes, às vezes com maiores outras vezes com menores aspectos religiosos entre as guerras. A grande base era um embate entre os agora nativos palestinos e os chegados israelenses. Além de um visível conflito territorial, também com fortes aspectos culturais, religiosos e de direito a terra e ao espaço. Desde então, diversas guerras, situações e realidades tem surgido e sido desenroladas na região. As quais estão dentro das bases acima citados. Com forte apoio ocidental, sobretudo americano, Israel também tem se colocado como um ponto estratégico para o ocidente exercer influência e poder sobre outros países da região. Não é a principal forma, mas é uma delas. Agora, em sete de outubro de 2023, frente mísseis do Hamas, Israel teria declarado guerra. Mas, na verdade, já está em guerra desde 1948, na conjuntura atual da região. Certamente vencerá militarmente e matará diversos palestinos, e manterá sua força. Em todas as disputas e ocupações já realizadas, sairá novamente vencedor.     

   Nesta situação e complexidade, mesmo que surgisse um estado palestino junto ao israelense, cujas fronteiras fossem integralmente respeitadas pelo último, às tensões e conflitos não cessariam. Pois possuem uma carga política e religiosa insolúvel, devido a ter três religiões dentro deste espaço. O que apenas mudaria de verdade se fosse apenas uma ou as três desaparecessem. Ou todos se tornam adeptos de uma delas ou todas são dadas como falsas e irreais fantasias humanas. A Palestina e Jerusalém perderiam seu significado, levando ao desaparecimento das milenares tensões. Talvez para serem substituídas por outras. Mas, na situação atual, já durando séculos, as culturas e religiões se concentram lá, tendo embates e combates. Tais tensões refletem um pouco das culturas mais fortes deste longo período. E que ainda não se entenderam entre si.     

 
 
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