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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Dinâmicas de espíritos

4/11/2023 - São Roque - SP

       Uma antiga fábula persa presente no livro “Calilla e Dimna”, traduzida ao árabe por Ibn Al Mukafa e ao português por Mansour Challita mostra, através de alguns animais, uma dinâmica de espíritos e o quanto funciona a organização destes mesmos espíritos. Os animais em questão são um leão, um lobo, um chacal, um corvo e um camelo. No início, em uma gruta, vivia o lobo, o chacal, o corvo, liderados e protegidos pelo leão. Um dia, fugindo de alguns mercadores, chegou o camelo. O qual pediu proteção ao leão, para poder viver lá.

       Assim viveu durante anos, junto aos demais. Comiam eles carne, ele pastava aos arredores. Todos tendo plena proteção do leão. A dinâmica era equilibrada permitia uma vida entre eles equilibrada e possível. Por muito tempo funcionou. Um dia, porém o leão foi caçar um elefante. E perdeu completamente. O elefante o esmagou e o perfurou com suas presas. O leão não morreu, mas ficou gravemente ferido, passando a ficar deitado em um canto da gruta, incapacitado de caçar. O que prejudicou diretamente o corvo, o chacal e o lobo, pois se alimentavam das sobras do leão. A partir deste momento, muitas coisas mudaram no pensamento e na visão daquele grupo. Pois, sentindo a fome, pensavam eles em devorar o camelo. Para que lhes servia aquele camelo comedor de pasto, afinal?

      Levaram isto ao leão, querendo que pudessem matá-lo. O que foi recusado, devido à proteção que este tinha jurado ao camelo. Então, os quatro se reuniram para ver de que maneira fariam o camelo abrir mão de sua proteção. Teria de ser pelo leão, através da consideração que o camelo tinha pelo leão. Então combinaram eles que se reuniriam todos, o camelo junto para um ir dizendo que queriam alimentar o líder, mas não podiam, pois suas carnes eram ruins. Assim o camelo cederia, pois sua carne seria boa. Tal foi feito. No dia, o corvo disse que tinha pouca carne, as do lobo e do chacal eram ruins. Portanto não valeria a pena o leão comê-los. E o camelo disse que sua carne era boa e farta, por isso poderia ser comido. Assim os demais se atiraram sobre ele e o reduziram a pedaços.

       Esta fala sobre a dinâmica dos espíritos especialmente na questão de como se organiza aquele pequeno grupo e o que aconteceu quando houve um impedimento da dinâmica, por uma questão do leão. Tudo aquilo levou a uma total desestruturação daquilo, mudando toda a situação. E revelou pequenos fatores presentes entre eles ainda não tão vistos. Como, e principalmente, os ressentimentos dos animais pelo camelo e pelo que ele representava. Alimentado pela fome. Assim vemos o quanto às estruturas e a dinâmica entre grupos pode ser frágil ou problemática, vindo a cair e se romper facilmente, por uma ação mal feita. Saber as dinâmicas dos espíritos em redor é sempre um dos mais importantes fatores.  

 
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