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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

18 brumário

17/12/2023 - São Roque - SP

    Se a política permeia todas as obras de Karl Marx, talvez “O 18 brumário de Luís Bonaparte” seja aquela em que toca mais diretamente e explora de maneira mais forte as ações e contradições políticas. Em outras, sempre presente a profunda análise do capitalismo e suas características intrínsecas não falaram tão diretamente os processos políticos que ocorrem em tais processos, e como ocorrem. Porém, em 18 brumário, trouxe tal característica bastante mais a tona, explorando a presidência e o posterior reinado de Luís Bonaparte na França, com todos os jogos e afastamentos do povo dos processos políticos.

    O livro começa com uma das frases mais famosas do autor, falando sobre a maneira como fazem histórias os humanos: não da maneira que querem, mas com as condições e realidades que encontram, as quais são transmitidas pelo passado. Nesta transmissão, vem todo o aspecto e toda a realidade de forma muito concreta, sendo por isso essa materialidade de relações algo do qual todos se tornam sujeitos e estão por ela presos e limitados. Uma vez que aquilo que se pensa e se quer só poderá ser posto em prática e feito dentro destas relações materiais transmitidas pelas condições anteriores dando assim uma limitação as relações sociais e suas transformações.

    Nisto fica já demonstrada às questões e contradições sociais bastante visíveis, pois estando dentro da realidade material, que é determinada por si própria em suas transformações, surge uma política econômica e também uma forma política de se lidar e de se existir nela. Estando nela o que surge são diretamente ações que estarão ali, em jogo com os interesses e poderes políticos colocados. Que, no caso do capitalismo, é o poder da burguesia, da classe burguesa e seu uso do estado como mantenedor de seus poderes e suas forças. Assim o estado torna-se apenas o instrumento de dominação da classe dominante perante a outra, as formas de força e poder que a primeira tem.

    No caso de Luís Bonaparte, mesmo considerando o cenário de mudanças e transições da França no século XIX, houve de fato um uso de instituições para afastar o povo dos centros de decisões políticas, sempre que este se fortalecia e punha sua marca mais decisivamente nas questões colocadas. Foram assim com a dissolução das assembléias, com as fortes reações burguesas as revoluções e reinvidicações populares do período, além da posterior concentração de poder de Luís Bonaparte. Em todas elas há um alinhamento, um jogo direto entre políticos e burguesia para garantir tal poder, tal posição e evitar a ascensão popular. Foram assim nos movimentos franceses em 1830 e 1848, momentos de revolta popular, ao final dominada pela burguesia, seja pela forma monárquica ou republicana.

    Neste livro, através destas descrições, Marx demonstra o jogo político burguês usado quanto se sente alguma ameaça a tal hegemonia e poder. Escancara assim os problemas políticos e a fraqueza da chamada democracia burguesa, pois esta sempre age para manter seus interesses, afastando os demais. Assim impedindo o poder e o bem estar popular. Os 18 brumários até hoje acontecem, sendo ainda o jogo capitalista para manutenção de poder. Se o estado não é tão predeterminado, pois pode fazer diferentes medidas e regimes, o poder das classes o influencia e molda diretamente, dando base a sociedade. A qual será transmitida as gerações posteriores. Tais contradições precisarão ser rompidas, introjetando nas estruturas sociais mais densas e profundas.

 
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