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Pedro Fagundes de Borba

Autor: Pedro Fagundes de Borba

Padre Brown

24/12/2023 - São Roque - SP

   De todos os detetives da ficção, meu favorito é o Padre Brown, personagem de G.K Chesterton. Isto porque, de todos os investigadores da ficção, este possui uma originalidade e uma perspicácia não vista em outros. O mais parecido com ele é Miss Marple personagem de Agatha Christie criada depois, provável que com forte inspiração no personagem de Chesterton. Porque, enquanto outros autores bebem bastante na visão de Conan Doyle baseada mais em evidências técnicas e uma visão um tanto mais fraca da personalidade e psique humana, o apologista católico consegue mergulhar densamente no psicologismo de seus personagens, fazendo seu detetive um perspicaz e arguto investigador da alma humana e suas motivações para fazerem o que fazem.

    Com a originalidade do autor, o gênero policial ganhou nova abordagem, conseguindo incluir coisas que autores anteriores, e muitas vezes posteriores não alcançavam, mesmo sendo excelentes autores policiais. Pois Brown, com sua sapiência, atenção e cultura de padre se torna capaz de enxergar detalhes, angústias, pensamentos e nuanças nos suspeitos e vítimas que outros autores não imprimiam ou enxergavam. Coisas relacionadas principalmente a sentimentos, posturas, circunstâncias em que os personagens estão inseridos e os crimes cometidos. Lembra Dostoievski em alguns pontos, embora não seja nem de perto tão brilhante e profundo quanto o mestre russo.

     Desse modo as investigações do personagem revelam a alma humana em suas ações, reações, contradições e jeitos de ser e agir perante situações como crimes, dependendo do que fizeram e a posição que ocupam naqueles ocorridos. Se por um lado são estes elementos clássicos do policial, por outro são levados a um novo nível pelo autor, devido à argúcia e profundidade do Padre Brown. Conseguindo também desfazer visões mais simplistas ou esperadas sobre as situações, Brown sempre mostra a argúcia e atenção com que lida diversos mistérios que desvenda, vendo os detalhes e nuanças de cada personagem. 

     O gênero policial sempre foi fascinado pela psique humana, como ela opera e as ações que gera, especialmente nos casos que envolvem crimes, a base da literatura policial. Chesterton conseguiu ir mais fundo nesta característica, buscando num padre a visão mais profunda de como se pode observar e intuir as pessoas, em jeitos e formas que outros não conseguiam, por vezes tendo outros focos de investigação ou de construção de mistérios. Com sua visão arguta, através de Padre Brown, foi Chesterton capaz de ver as ações e os pensamentos mais profundos, criando os casos.

    Por ter sido um autor católico, bastante sensível a ideia de Deus, ficou focado na figura do padre, como alguém que observa sua comunidade e percebe os detalhes e características daqueles que ali vivem.  Assim leva a suas observações e capacidade de distinguir. Como forma também de explicar e mostrar a amplitude de sua fé, Chesterton mostrou esta mesma argúcia, dentro do que acreditava e conhecia. Assim surgiu um personagem memorável, que desvendou alguns mistérios dos mais paradoxais, com as reviravoltas mais simples e surpreendentes, pela capacidade de mostrar o humano em suas ações. Os paradoxos das histórias, se nem sempre convencem em termos de realismo, sempre possuem uma boa verossimilhança, baseada em questões reais do ser humano.

 
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