COLUNISTAS
Autor: Pedro Fagundes de Borba
O sentir de José Larralde
25/2/2024 - São Roque - SP
Como um dos maiores cantores gauchescos de todos os tempos, o argentino José Larralde trouxe importantes dimensões ao gaucho e sua música. Através de seus poemas e canções mantém viva as tradições, mas, sobretudo o espírito gaúcho. Traz consigo o espírito daqueles pampianos uruguaios, argentinos, rio-grandenses, paraguaios e bolivianos, gaúchos enfim, que vagando por estas terras e pelo resto da América do Sul, com um sentimento e uma postura muito própria.
Humanos que eram certamente tiveram pensamentos e visões diferentes uns dos outros, mas enquanto tipos sociais e pessoas em uma determinada e específica condição, alguns aspectos comuns podem ser percebidos e trazidos. O mais notável deles é certo desgarramento social, vivendo de trabalhos para estancieiros e sempre em viagens, vendo muitos lugares e tendo uma visão solitária e desgarrada dos outros, sempre tendo assim deles uma visão profunda, entendendo a sociedade e as pessoas de maneira mais externa.
Esse tipo social presente até o século XIX nesta vida campeira, começo do século XX ainda um pouco, foi já bem apercebido na época por José Hernandez em seu clássico Martin Fierro. Mais tarde por Simões Lopes Neto nos Contos Gauchescos. Ao longo do tempo, tal espírito foi mantido e renovado pelos pampianos posteriores, sobretudo na música. É neste contexto que surge José Larralde e seu estilo de cantar. Falando sobre temas campeiros e gauchescos, sempre partindo de imagens e ideias campeiras, consegue dar novas e profundas dimensões ao sentir gauchesco, a postura gaúcha nestes momentos e lugares. Fala dos pampas, dos cães mortos, dos locais da Argentina, dos hábitos campeiros, de si, de seu destino, dos pagos do tempo, de vários aspectos presentes na vida gaúcha e campeira.
Porém, sempre estão muito acompanhadas de suas visões e sentimentos mais profundos, unindo um forte raciocínio, fortalecido pelo jeito de ser, também quanto pela sua capacidade de sentir e perceber o que lhe cerca, batendo e sendo transformada pelas artes de sua alma. Que, ao perceber o que absorveu, transforma em outra arte, fazendo com que saia e diga toda essa complexidade em seu tom e timbre, assumindo uma postura gauchesca, grossa, mas muito atenta. Larralde possui um sentir bastante forte e poderoso capaz de expressar firmemente tanto o que vê quanto o que está em sua volta, pondo isto em grande dimensão. O sentir dele revela uma série de dores, percepções, vidas e um ser que fala o que vê e sente na profusão gauchesca. Suas letras revelam estes aspectos diversos, sendo assim uma arte que leva para os altos níveis o que diz.